segunda-feira, 30 de junho de 2014

O jornalista do Vale não vai ao teatro?

Por Lícia Lara Dantas
 
Observando os produtos jornalísticos produzidos no Vale do São Francisco, é possível ver um grande número de releases sobre espetáculos teatrais. Isso seria um considerável incentivo ao teatro nas cidades de Juazeiro e Petrolina, se não ficasse resumido a estas ações. Não encontramos críticas sobre a montagem, sobre o figurino, sobre os atores, dançarinos, sobre nada e sabe o porquê? Porque o jornalista não costuma ir ao teatro. Ele divulga, entrevista, fotografa, mas não assiste e passa para o público como foi aquela estreia ou como está a peça que já foi montada inúmeras vezes. Não estamos habituados a ver impressões dos jornalistas regionais sobre a produção artística local, apenas divulgação dos espetáculos. 

Existe uma máxima no teatro que diz que existe uma velhinha surda sentada na última cadeira e que ela precisa escutar o que os atores dizem. Essa velhinha também pode ser substituída pelo crítico de arte, este que sentado na última, na primeira ou no meio da fileira, tem seu papel bem definido ao chegar a um espetáculo, seja de teatro, dança ou dança-teatro, como é bem comum em nossa região. O papel dele é registrar, observar e após isso tecer uma crítica bem estruturada, ressaltando os pontos relevantes e colocando também o que precisa ser melhorado, mesmo que de forma sutil, pois não queremos inimizades e nem estranhamentos entre artistas e jornalistas. No entanto, para realizar esse trabalho, o jornalista precisa conhecer do seu objeto para que essa crítica tenha valor, não é só sentar em uma peça e digitar suas impressões a posteriori.

Dessa forma, o jornalista do Vale do São Francisco precisa adentrar na quarta parede e descobrir o que vive por trás das cochias do teatro. Porque só assim conseguirá estruturar uma crítica coerente, firme e que seja apreciada pelos que fazem o espetáculo e também por quem o assiste. O público ao se deparar com esse trabalho pode decidir melhor porque deve ver essa ou aquela montagem, podendo depois concordar ou discordar totalmente da crítica. Aí que mora a magia desse formato jornalístico. É dada a possibilidade de interação entre crítico, público e também de quem faz, todos podendo interagir para que o texto tome forma e receba de seu público ativo outras críticas, sugestões, comentários ou agradecimentos.

Hoje, algumas críticas são feitas de forma informal, geralmente pelo Facebook. Caberia até ao jornalista também observar esses trabalhos que já são feitos e os receber também para a composição de sua entrada para o universo da crítica de arte. O jornalista do Vale precisa ir ao teatro, e não só isso, precisa entrar, sentar, ouvir, anotar, entrevistas, perceber, sentir, conhecer a história, o processo de criação, para só assim, conseguirmos construir uma cultura desse estilo jornalístico entre os leitores da região. Começando com o jornalista e quiçá culminando na mudança da visão e interesse no teatro de forma geral.

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