sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Imprensa parcial: Informação prejudicada


Por Taiza Felisberto          
A mais de um ano os brasileiros têm intensificado sua busca por mudança. Em junho de 2013 milhares de brasileiros foram às ruas de todo o país reivindicando menores tarifas nos transportes públicos. E logo o protesto passou a ser  por melhores condições de saúde, educação e segurança, além de salários mais dignos para profissionais dessas áreas. Em 2014 o foco das manifestações voltou-se aos altos custos de  investimentos para sediar o campeonato mundial de futebol da FIFA. Nesta busca por mudanças, parte dos brasileiros luta por uma reforma  no sistema político, tema discutido do por organizações e movimento da sociedade civil brasileira desde 2004. 
O plataforma pela reforma do sistema político é estruturada em três eixos principais:  Fortalecimento da democracia direta, reforma do sistema eleitoral e controle social do processo eleitoral. Para o movimento, a democracia não se resume ao direito de voto, mas trata-se das formas de relacionamento e organização da sociedade. Com a implantação dos eixos citados a população passaria a ter mais acesso e participação nos processos e decisões  da federação. A busca por essa mudança se intensificou durante o período de campanha eleitoral, quando os militantes da causa fizeram também sua campanha. A presidente Dilma declarou seu apoio ao movimento em sua campanha e priorizou o compromisso em seu discurso de vitória.
Ignorando os benefícios que a reforma do sistema político venha a trazer, o jornal Folha de São Paulo publicou no dia 30 de outubro a matéria intitulada Reforma política é "erro cabal", diz cientista político. Já no título fica clara a posição tomada sobre o assunto, a expressão destacada da fala de Fabiano Santos, cientista político, passa a idéia de oposição, reforçada em todo o texto em que são usadas expressões como: balela, irresponsabilidade, caixa de pandora, desastre, sonho dourado. Todas elas referindo-se a reforma política. E para reforçar a credibilidade de sua fonte o jornal ressalta que é tido como um dos principais estudiosos do legislativo do país.
Fabiano Santos ainda compara a proposta de reforma no Brasil com uma reforma mal sucedida na Itália. O Folha não tem a preocupação de buscar outra fonte que fosse a favor para fazer um contraponto do assunto, assim como não se preocupa em informar ao leitor em que consiste a tal reforma política condenada pela matéria. Simplesmente esqueceram a imparcialidade jornalista. Por trás da figura do cientista político o jornal deixou bem claro sua posição, ressaltando que esse "grande erro" é uma prioridade do governo Dilma.   

O jornalismo está em função de quais interesses?

Por Mariana Ramos

Dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, a revista Veja  antecipou a saída da edição do semanário para antes do último debate eleitoral televisionado pela Rede Globo. Na edição, a revista publicou uma reportagem especial em que, supostamente, o doleiro Alberto Yossef declara, em depoimento à Polícia Federal, que o ex presidente Luís Inácio Lula da Silva e a atual presidenta Dilma Roussef tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás.
A repercussão da reportagem em um período de uma corrida presidenciável  acirrada e com  pesquisas que colocavam a atual presidente a frente do seu adversário, tomou conta das redes sociais e dos programas eleitorais. Muitos militantes que apoiavam a reeleição de Dilma Roussef ficaram revoltados com a abordagem da matéria e protestaram na sede da editora Abril, em São Paulo. Os manifestantes jogaram lixo e picharam a fachada do prédio com frases: "Fora Veja" e "Veja mente".
Na reportagem, a Veja vai contra as regras e a ética do jornalismo, ao colocar como fonte um depoimento de um processo que corre em segredo de Justiça, sem dar direito de resposta às pessoas citadas na reportagem. É regra do jornalismo ouvir os dois lados da história, além de investigar e apurar a fundo uma acusação como esta, que poderia mudar os rumos das eleições. Além disso, na matéria o jornalista coloca juízo de valor, além de dá um julgamento prévio aos leitores.
Sabemos que o posicionamento político da revista vai de encontro ao atual governo e que uma reportagem bem apurada e dando voz a todos os envolvidos leva muito tempo. Mas com as eleições se aproximando eles resolveram antecipar a matéria e a edição, vendo o intuito claro do jornalismo a favor dos interesses políticos da empresa.  
Além disso, na reportagem são mostradas acusações sem qualquer prova concreta. Precisando ainda analisar a credibilidade da fonte utilizada, sendo que todo jornalista deve desconfiar de toda e qualquer fonte. É visto que o papel do jornalismo de informar com rigor e ética para formar uma opinião pública democrática foi quebrado nessa reportagem, servindo aos interesses políticos e financeiros da revista por meio da distorção, falta de provas e negligência aos envolvidos citados.  






quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DOCES OU TRAVESSURAS?



Um conto jornalístico de suspense, estrelando o Exame Nacional do Ensino Médio e o G1 Petrolina.

Por Heitor Ferreira

No fim de semana (dias 08 e 09 de novembro), a pauta agendada foi o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Como evento de abrangência nacional, a prova é acompanhada pela mídia quase uma mini-final de Copa do Mundo (com o Brasil jogando, claro), desde a véspera ao desfecho, pontuando o que é pitoresco. Mas na tentativa de anunciar a “largada” na cidade, o G1 Petrolina deu um exemplo pouco inspirado de como localizar o fato.
O título faz uma associação inusitada com a prova. Preces e doces? Esses elementos são pontuados fracamente na matéria, e não são relevantes nem com muito boa vontade do leitor. O título parece reciclado de alguma matéria de Halloween que não saiu. Após o título pouco inspirado e um lead descritivo e desinteressante, são apresentadas personagens típicas de notícia sobre o processo seletivo.
Temos a vestibulanda tensa de primeira viagem, pesando as sortes e azares do dia. Só faltou uma dica de simpatia pra fazer a prova bem. Em seguida, a veterana que não parece muito confiante; a concorrente iniciante que diz que se preparou bem, e finalizando com a professora com uma fala-reforço (“[...] o Enem se tornou o processo seletivo mais importante do país [...]”). Todas fazem menções diretas ou indiretas em todas as falas sobre a pressão pré-prova, que não é nada incomum. A fotografia da matéria confunde: é apenas sugerido que as pessoas nas ilustrações são as mesmas que foram entrevistadas, e isso apenas pela posição em relação ao texto. As legendas se limitam à descrição.
O resultado é uma quase-nota um tanto sem foco, que podia ter sido resumida em ainda menos linhas e com um curto título, como: “Começa o ENEM em Petrolina. Candidatos tensos”. Houve exemplos mais completos sobre o preparo de quem ia prestar a prova, e se era para fazer uma abordagem rasa e espetacular em cima de fato comum, talvez fosse preferível esperar os inevitáveis atrasados para a prova. Talvez até eleger uma candidata para concorrer à “musa do ENEM” (que, posto de lado o sensacionalismo, é uma pauta que se bem utilizada rende um tratamento digno ao elemento humano em questão).
Na tentativa de situar o Exame Nacional do Ensino Médio para o leitor petrolinense, o G1 local tem séria chance de ter zerado a pontuação. No fim, o doce deve ser para cortar o amargor que foi ler aquilo, e a reza para afastar o encosto que rondando a pauta. Quem sabe a Amanda Alli (a musa ENEM 2014), que pretende cursar jornalismo, faça melhor quando vier a vez dela.