sábado, 5 de julho de 2014

A mídia, a Copa e adjacências



Por Carlos Humberto

Estimativas da FIFA revelam que um público de 3,5 bilhões de pessoas irá assistir à Copa em mais de 200 países. Isso é quase metade da população mundial! Juntas, as emissoras exibirão 73 mil horas de transmissão. É como deixar a TV ligada, direto, por oito anos. 

Essa será uma copa superlativa, de números astronômicos. Foram pedidos 11 milhões de ingressos, dos quais 3 milhões já foram vendidos e 20 mil profissionais de imprensa foram credenciados para a cobertura, três mil a mais do que os dois últimos mundiais. Num ato de “generosidade”, a FIFA estipulou o prêmio de R$ 78 milhões para o time campeão, 37% a mais do que na Copa da África do Sul em 2010. Uma “merreca”, se compararmos ao total que será rateado entre as 32 seleções, cerca de R$ 1.272 bilhão. O lucro previsto pela empresa presidida pelo suíço Joseph Blatter está na casa de R$ 4 bilhões líquidos, graças, em parte, às benesses governamentais que isentam patrocinadores Fifa, o chamado imposto zero. Pior para nós que pagamos até 35% de impostos numa cesta básica de alimentos.

Nos rincões desta terra chamada brasilis, nós, nativos, sabemos dimensionar o alcance destes números? O que significa legado para nós, moradores do país anfitrião do maior evento de um só esporte – o futebol – do mundo? Será que a tão propalada mobilidade urbana vai desviar o meu caminho para o trabalho?

Esse provável conflito não deve ser colocado na conta da ignorância e alienação da maioria da população que por motivos conhecidos não tem acesso ao significado dessas informações. Essa mesma maioria tem problemas prosaicos mais urgentes a resolver do que rebater o “pé na bunda” prometido pelo secretário JéromeValcke.

E a mídia nacional, onde se encaixa nesse contexto de números extravagantes? O produto chamado futebol, administrado nem sempre de forma transparente pela Federação Internacional de Futebol Associação, não teria tamanha dimensão se não fosse a cumplicidade objetiva dispensada pelos meios de comunicação na propagação desse fenômeno que cresce em progressão geométrica.

Se a população confere à Rede Globo índice de audiência de até 84% em dias de grandes jogos, a sua responsabilidade como formadora de opinião, proporcionalmente, deve ser medida pelo mesmo parâmetro.

O futebol, ao longo do tempo, se transformou saindo das linhas do campo para se tornar até mesmo questões de Estado. As cifras que chegam ao chamado mercado midiático são bilionárias, e as políticas adotadas pelas grandes redes de comunicação influenciam a sociedade através da cultura do mundo capitalista.

Nesse contexto, ignorar as manifestações populares, por exemplo, nem sempre é uma boa política. Uma cobertura isenta, profissional e educativa sempre carrega no seu bojo resultados que refletem positivamente no crescimento de uma nação e do seu povo.

Reflexões sobre o futuro da mídia regional

Não resta dúvida que ‘legado da copa’ foi (é) a expressão mais usada, indistintamente, seja pelos opositores à realização do evento da Fifa em solo brasileiro, seja por aqueles que abraçaram a causa desde 2007 quando o país foi escolhido para sediar a 20ª edição da Copa do Mundo de futebol.

Distante aproximadamente 500 quilômetros da cidade-sede mais próxima, vislumbro que o jornalismo da região do Vale do São Francisco terá o seu grande legado através do projeto Chuteiras Fora de Foco, formado por alunos do Departamento de Comunicação da Uneb em Juazeiro, sob a coordenação da professora Ceres Santos.

Em especial, o jornalismo esportivo regional, carente de novos valores, será beneficiado pela entrada no mercado de jovens profissionais que enriqueceram colocando em seus currículos duas coberturas jornalísticas da maior envergadura, a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014, na capital baiana.

A identificação de alguns com o tema e suas ramificações permite acreditar numa renovação histórica na mídia local em curto espaço de tempo, proporcionando o rejuvenescimento de um setor cada vez mais ocupado por interesses alheios aos ideais de um bom jornalismo.

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