quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Um espaço para o leitor ser ignorado

Por Calincka Crateús

Após chuvas, em Juazeiro, alguns descasos com bairros da cidade baiana foram flagrados por alguns moradores que em busca de uma solução utilizaram o Espaço do Leitor no blog Geraldo José para ter voz e chamar atenção do atual prefeito Isaac Cavalcante.

Do dia 14 a 19 de novembro é possível ler os descontentamentos de moradores e leitores com as ruas esburacadas, alagadas, bairros que não são calçados e foram parcialmente obstáculos de veículos que atolaram ou perderam bastante tempo ao tentar sair de ruas precárias em Juazeiro da Bahia. O espaço para o leitor é uma categoria importante para informar como as notícias no blog estão sendo recebidas, respondidas e prestar o serviço de utilidade pública que é feito pelo próprio público.

O leitor tem as suas mensagens/pedidos e fotos publicados com o nome, mas em sua maioria não recebem a atenção que procuraram obter trazendo um recurso que possa resolver o perigo que há em ruas esburacadas utilizadas pela noite sem iluminação e/ou a possibilidade de atrair o mosquito da dengue em poças de água por bairros periféricos que são lembrados apenas em fase da campanha eleitoral.  A ausência da utilização de instrumentos jornalísticos, como um artigo de opinião do próprio Geraldo José, sobre o assunto é percebida e questionada: já que o jornalista está mais próximo da ASCOM da Prefeitura Municipal ao publicar releases sobre eventos e inaugurações da mesma, por qual motivo não mostrar e solicitar uma resposta esperadas por moradores e leitores?

Um blog com teor ou proposta jornalística não é um espaço virtual para apenas depositar notícias esperando que a população seja em sua maioria passiva: apenas recebendo a informação com conformismo. É preciso, além de informar, procurar a possibilidade de ser um intermediário ao tentar fazer um diálogo entre a população e a gestão da cidade para que medidas sejam tomadas e realizadas.

O Espaço do Leitor  pode ser visualizado por este link: http://migre.me/n0LEy


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

“Espreme que sai sangue”

Por: Juciane Aleixo


Esta semana o jornal Diário da Região, na edição de Quarta-Feira (12), teve como matéria de capa o registro dos homicídios da cidade de Juazeiro nos últimos onze meses. A reportagem traz os números de mortes, as principais causas e o perfil das vítimas, ilustrada com fotos dos assassinados.

A morte é um assunto que tem uma carga emocional muito forte e sempre está presente nos noticiários. A violência é um fenômeno social que necessita mesmo ser mostrado e discutido na imprensa. O jornalismo, enquanto formador de opinião, exerce um importante papel na sociedade e não poderia deixar de apresentar esse aspecto. No entanto, o que é discutível é a forma como isso é mostrado.

O Diário da Região utilizou fotos de corpos ensanguentados com a clara intenção de chocar o público e incentivar a compra do periódico. Há quem diga que as pessoas preferem ver esse tipo de notícias sensacionalistas e que crimes hediondos despertam o interesse dos leitores em saber mais detalhes sobre esses casos. Notícias sobre mortes violentas figurando entre as mais lidas nos portais de notícias reforçam este tipo de pensamento.

Mas até que ponto a mídia deve estimular e alimentar este público? O jornalismo não seria mais fiel ao seu papel social se ao invés de explorar a violência de forma apelativa, refletisse sobre possíveis ações na área de segurança pública e trouxesse uma discussão sobre os fatores causadores desse fenômeno?

Na matéria do Diário, é mencionada na fala de um personagem a necessidade de medidas por parte do poder público para reprimir o tráfico de drogas, principal motivador dos crimes. Porém o que é mais enfatizado são os números de mortes, sem nenhuma reflexão mais aprofundada sobre o assunto. Os números em si não dizem nada. Dizer que o tráfico de drogas é a maior causa da violência também não. Seria mais interessante se houvesse uma análise sobre os fatores sociais envolvidos no tema.

Infelizmente essa é uma realidade vivida pelos jornais populares. A ânsia por vender notícia está deixando os veículos cada vez mais sangrentos. As manchetes de notícias que envolvem morte, geralmente ilustradas com um cadáver ensopado de sangue, são construídas com o intuito de chocar e levar as pessoas a lerem as matérias. Parece-me que produzir um conteúdo relevante e construtor de pensamento crítico não está dentro no orçamento dos jornais.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O que dizer sobre a Transposição do Rio São Francisco?

Mariana Ramos
A transposição do Rio São Francisco é o maior projeto de infraestrutura hídrica do país, sendo o grande investimento contra a seca para o nordeste. O projeto começou em 2007 e deveria ser entregue em 2012, mas as obras estão em atraso e o orçamento estimado em R$ 4 bilhões, hoje está orçado em R$ 8,2 bilhões.
Na última segunda-feira (10) foi ao ar no jornal GRTV 1ª edição da TV Grande Rio, emissora de televisão filiada da Rede Globo em Petrolina – PE, uma matéria sobre o atraso nas obras da transposição. É interessante ressaltar que a matéria foi ao ar também no Jornal Nacional em um período pós eleição, no qual o atual governo está passando por uma crise de corrupção e a matéria poderia aumentar os problemas já existentes.
A reportagem “Obras da Transposição do Rio São Francisco continuam atrasadas” não apresenta os pontos controversos do projeto, em contra partida enfatiza que a obra levará “as águas da esperança”. Reforçando assim o estereótipo do Nordeste, sempre abordando a temática da seca e mostrando como única solução a transposição.
O atraso é o gancho principal da matéria, são mostrados dados sobre o começo e como está o andamento da construção agora. É fato que houve um salto gigantesco com relação ao orçamento do projeto, mas esta questão é abordada de forma muito tímida na reportagem, sem qualquer reflexão sobre isso.
Foi perceptível que um enquadramento tendencioso que apenas mostrou as vantagens que os moradores de 390 municípios de quatro estados do Nordeste poderão ter com a obra. Quanto a isso, em uma sonora com uma moradora das proximidades da transposição enfatiza que a água da transposição não atenderá a toda população. Seria uma das possibilidades de abrir uma discussão mais abrangente sobre quem realmente será beneficiado com a obra, mas a questão não foi levantada.
A principal questão de impacto da transposição é a ambiental que não foi explorada. Fala-se da caatinga, de formas de conservação, mas segundo um agricultor, nada foi feito. Já o pesquisador diz que ela só será possível com a água do rio São Francisco e a repórter não questiona essa condição. Afinal, é caatinga ou vegetação ribeirinha pra precisar de água em abundância?
Em nenhum momento foi problematizado a viabilidade do projeto tendo em vista a situação atual do rio, com a mata ciliar totalmente degradada, do assoreamento e da poluição. Com essa abrangência de informações, o jornalismo deveria ter a obrigação de fazer uma reportagem mais crítica, ouvindo todas as versões da história e contrapondo os pontos de vista.





quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Vandalismo ou Liberdade de expressão?

Por: Aparecida Débora Sousa Pereira


A revista Veja, da editora Abril, fez uma grande reportagem e destacou em sua capa o caso da corrupção da Petrobras e que o Ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva e a Presidenta Dilma Rouseff, “sabiam tudo”. A revista foi antecipada em um dia, do convencional das publicações. Esta que levou cerca de 200 pessoas a protestarem em frente a porta da editora, com muita sujeira e pichação, esse protesto foi repudiado pela mídia, e os presidenciáveis também falaram a respeito. A Associação Nacional dos Jornais relatou como lamentável e intolerante a ação e que as pessoas não sabem conviver com a democracia e nem tão pouco a liberdade de imprensa.

Os manifestantes são integrantes da União da Juventude Socialista e alegam que o protesto não estava condenando a liberdade de imprensa, mas por estar em período eleitoral, uma revista de grande relevância nacional, relatar um fato de grande repercussão e que já estão sendo apurados e os envolvidos já condenados, colocar na capa a atual Presidenta e o Ex- Presidente Lula, com uma afirmativa “sabiam tudo”, isso dois dias antes das eleições foi no mínimo um ato que a Veja estava querendo “mudar” o rumo das eleições.

Considerar um protesto sempre como liberdade de expressão, está nos autos da democracia, onde as pessoas têm livre arbítrio para decidir o que é melhor e associável a sua vida. Agora manchar a imagem pública ou privada de determinada entidade, com sujeira e pichações, está relacionado a Vandalismo.  Entidades midiáticas querem esconder, ou ao menos tentar esconder que não era a intenção modificar os rumos das eleições, mas como, faltando menos de quarenta e oito horas para a votação, e a revista muda o dia de sua publicação e ainda faz propaganda da edição nas mídias? Querer trabalhar a ação dos populares para esquecer a barbaridade em tal edição da Veja é minimamente intolerável. Até onde vão usar a mídia como o quarto poder para influenciar e até mesmo modificar os ideais da população? 

A mídia está sendo usada como álibi pelas grandes empresas jornalísticas, em que seus objetivos estão inseridos claramente na forma como são conduzidas as matérias, entrevistas, como e quando são disponibilizados para a sociedade. Este procedimento fere ativamente a pratica jornalística que é estudada, onde deve ser cumprido a objetividade e imparcialidade, tentar implantar informações em determinados períodos, em especial o eleitoral, é desonesto e ilegal, por colocar apenas o que é de interesse da empresa, órgão individual.
 
 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Editorias policiais: release ou notícia?

Por Mirielle Cajuhy

Nessa era de tecnologia, acostumamo-nos a consumir os mais diversos produtos da forma mais rápida possível. No mundo da comunicação, parece que as notícias estão seguindo esta mesma linha. O que percebemos nos blogs da região e nas informações que neles são veiculadas, é que a velocidade - de publicação e consumo - é priorizada em detrimento de uma notícia bem apurada, com riqueza de informações e fomentadora de reflexão.
No dia 01 de novembro, o Blog do Geraldo José veiculou uma notícia intitulada: “CIPE - Caatinga entra em confronto com assaltantes, apreende armas, munições e dinheiro roubado em Uauá”. O texto, sem dúvidas, era um release policial, com direito aos termos mais complexos da área, no entanto, não estava creditado. Em situações como essa, em que nos deparamos com notícias que foram repassadas tais quais foram recebidas, surge uma necessidade de nos perguntarmos: que tipo de informação é essa que estamos consumindo?
A notícia aqui citada apresenta não só uma estrutura e uma linguagem que dificultam a compreensão do fato, como também, um enquadramento tendencioso que privilegia a ação da polícia (“mesmo diante da injusta e inesperada agressão, conseguiram atingir os meliantes, evidenciando de que o revide policial fora pontual”, entre outras expressões). Esta tendência já é esperada por se tratar de um release. Publicar textos assim é, inevitavelmente, beneficiar um lado da história no lugar do esclarecimento dos fatos e da reflexão a respeito do tema geral contido na notícia – nesse caso, a criminalidade.
É importante destacar, que, durante o confronto narrado no release em questão, dois homens morreram. No entanto, esse fato foi apenas uma notificação dentro do texto. A narração da troca de tiros, os muitos e diversos objetos apreendidos, a descrição densa e detalhista das armas e das balas que estavam com essas pessoas ganhou um destaque muito maior, logo, uma importância maior. Fica explícito que a cultura do “bandido tem que morrer mesmo” é fomentada pela polícia, repassada pelos meios de comunicação e acessada pelos leitores. Não cabe aqui ser dito que todas as pessoas que lêem esse tipo de notícia serão “manipuladas” pela informação. Mas, uma influência por conta do enquadramento, acontece.
Portanto, é necessário que fiquemos atentos aos blogs, às fontes que são utilizadas por eles e ao contexto das editorias das notícias. No caso da editoria policial da região, os releases se fazem muito presentes. Então, se analisarmos na íntegra, veremos que esta editoria passa a cumprir o papel de divulgar os atos policiais, e não de conscientizar as pessoas a respeito da criminalidade.


A Espetacular Vida de Suzane von Richthofen

Capítulo de Hoje: O Casamento
Por: Juciane Aleixo

Um casal foi encontrado morto dentro de casa em um bairro nobre de São Paulo no dia 31 de outubro de 2002. As investigações iniciais trabalhavam com a hipótese de assalto, mas dias depois foi descoberto que Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados pelos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, a mando de Suzane von Richthofen, filha deles.

Jovem, bonita, pertencente a classe alta e assassina dos próprios pais. O caso reunia vários elementos a serem explorados pela mídia, que  não demorou muito a repercuti-lo em todo país.  Rádio, televisão e impresso traziam diariamente novas informações envolvendo o caso. Uma novela que até hoje ainda rende capítulos na imprensa brasileira.

Suzane foi julgada e condenada pela morte dos pais no ano de 2006 e sempre que um fato novo acontece na vida dela, é amplamente divulgado pela mídia nacional. A novidade da vez é o casamento da presidiária com a também detenta Sandra Regina Ruiz, condenada por sequestro e assassinato.

Logo os veículos começaram a explorar a união do casal. O Jornal Correio, por exemplo, trouxe em sua matéria de capa de hoje, 30/10, o perfil da companheira de Suzane. "O casamento de Suzane von Richthofen com Sandra Gomes é o babado do momento", diz o texto da manchete. O termo babado do momento e uma fotomontagem com Suzane vestida de noiva ao lado de Sandra vestida com smoking já nos dão indício de como foi feito o encaminhamento da matéria.

A reportagem tem como título "Drão, o amor de Suzane" e subtítulo "Quem é Sandrão? Foi ela que roubou o coração de von Richthofen". Não fosse o sobrenome já conhecido, não seria difícil pensar que se trataria de mais uma notícia sobre celebridades em um portal de fofoca qualquer.

O jornal aborda o caso com sensacionalismo, enfatizando acontecimentos que não são relevantes para a sociedade. O que acrescentará ao leitor, em termos de conhecimento crítico, saber quem é a esposa de Suzane von Richthofen?

Assim a notícia foi tratada apenas como mercadoria. Tratar uma condenada pela justiça como celebridade não deveria ser o papel dos jornais, mas essa tem sido uma tendência da mídia na sociedade contemporânea: transformar fatos em espetáculos e tratar as notícias como entretenimento.

Os veículos estão, cada vez mais, tirando o foco da informação e destacando histórias sensacionalistas, visando atrair os leitores para comprar jornal. Assim, o jornalismo ao invés de levar as pessoas a refletirem criticamente está apenas alimentando o público com notícias sem conteúdo relevante, visando o lucro.