quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Um espaço para o leitor ser ignorado

Por Calincka Crateús

Após chuvas, em Juazeiro, alguns descasos com bairros da cidade baiana foram flagrados por alguns moradores que em busca de uma solução utilizaram o Espaço do Leitor no blog Geraldo José para ter voz e chamar atenção do atual prefeito Isaac Cavalcante.

Do dia 14 a 19 de novembro é possível ler os descontentamentos de moradores e leitores com as ruas esburacadas, alagadas, bairros que não são calçados e foram parcialmente obstáculos de veículos que atolaram ou perderam bastante tempo ao tentar sair de ruas precárias em Juazeiro da Bahia. O espaço para o leitor é uma categoria importante para informar como as notícias no blog estão sendo recebidas, respondidas e prestar o serviço de utilidade pública que é feito pelo próprio público.

O leitor tem as suas mensagens/pedidos e fotos publicados com o nome, mas em sua maioria não recebem a atenção que procuraram obter trazendo um recurso que possa resolver o perigo que há em ruas esburacadas utilizadas pela noite sem iluminação e/ou a possibilidade de atrair o mosquito da dengue em poças de água por bairros periféricos que são lembrados apenas em fase da campanha eleitoral.  A ausência da utilização de instrumentos jornalísticos, como um artigo de opinião do próprio Geraldo José, sobre o assunto é percebida e questionada: já que o jornalista está mais próximo da ASCOM da Prefeitura Municipal ao publicar releases sobre eventos e inaugurações da mesma, por qual motivo não mostrar e solicitar uma resposta esperadas por moradores e leitores?

Um blog com teor ou proposta jornalística não é um espaço virtual para apenas depositar notícias esperando que a população seja em sua maioria passiva: apenas recebendo a informação com conformismo. É preciso, além de informar, procurar a possibilidade de ser um intermediário ao tentar fazer um diálogo entre a população e a gestão da cidade para que medidas sejam tomadas e realizadas.

O Espaço do Leitor  pode ser visualizado por este link: http://migre.me/n0LEy


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

“Espreme que sai sangue”

Por: Juciane Aleixo


Esta semana o jornal Diário da Região, na edição de Quarta-Feira (12), teve como matéria de capa o registro dos homicídios da cidade de Juazeiro nos últimos onze meses. A reportagem traz os números de mortes, as principais causas e o perfil das vítimas, ilustrada com fotos dos assassinados.

A morte é um assunto que tem uma carga emocional muito forte e sempre está presente nos noticiários. A violência é um fenômeno social que necessita mesmo ser mostrado e discutido na imprensa. O jornalismo, enquanto formador de opinião, exerce um importante papel na sociedade e não poderia deixar de apresentar esse aspecto. No entanto, o que é discutível é a forma como isso é mostrado.

O Diário da Região utilizou fotos de corpos ensanguentados com a clara intenção de chocar o público e incentivar a compra do periódico. Há quem diga que as pessoas preferem ver esse tipo de notícias sensacionalistas e que crimes hediondos despertam o interesse dos leitores em saber mais detalhes sobre esses casos. Notícias sobre mortes violentas figurando entre as mais lidas nos portais de notícias reforçam este tipo de pensamento.

Mas até que ponto a mídia deve estimular e alimentar este público? O jornalismo não seria mais fiel ao seu papel social se ao invés de explorar a violência de forma apelativa, refletisse sobre possíveis ações na área de segurança pública e trouxesse uma discussão sobre os fatores causadores desse fenômeno?

Na matéria do Diário, é mencionada na fala de um personagem a necessidade de medidas por parte do poder público para reprimir o tráfico de drogas, principal motivador dos crimes. Porém o que é mais enfatizado são os números de mortes, sem nenhuma reflexão mais aprofundada sobre o assunto. Os números em si não dizem nada. Dizer que o tráfico de drogas é a maior causa da violência também não. Seria mais interessante se houvesse uma análise sobre os fatores sociais envolvidos no tema.

Infelizmente essa é uma realidade vivida pelos jornais populares. A ânsia por vender notícia está deixando os veículos cada vez mais sangrentos. As manchetes de notícias que envolvem morte, geralmente ilustradas com um cadáver ensopado de sangue, são construídas com o intuito de chocar e levar as pessoas a lerem as matérias. Parece-me que produzir um conteúdo relevante e construtor de pensamento crítico não está dentro no orçamento dos jornais.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O que dizer sobre a Transposição do Rio São Francisco?

Mariana Ramos
A transposição do Rio São Francisco é o maior projeto de infraestrutura hídrica do país, sendo o grande investimento contra a seca para o nordeste. O projeto começou em 2007 e deveria ser entregue em 2012, mas as obras estão em atraso e o orçamento estimado em R$ 4 bilhões, hoje está orçado em R$ 8,2 bilhões.
Na última segunda-feira (10) foi ao ar no jornal GRTV 1ª edição da TV Grande Rio, emissora de televisão filiada da Rede Globo em Petrolina – PE, uma matéria sobre o atraso nas obras da transposição. É interessante ressaltar que a matéria foi ao ar também no Jornal Nacional em um período pós eleição, no qual o atual governo está passando por uma crise de corrupção e a matéria poderia aumentar os problemas já existentes.
A reportagem “Obras da Transposição do Rio São Francisco continuam atrasadas” não apresenta os pontos controversos do projeto, em contra partida enfatiza que a obra levará “as águas da esperança”. Reforçando assim o estereótipo do Nordeste, sempre abordando a temática da seca e mostrando como única solução a transposição.
O atraso é o gancho principal da matéria, são mostrados dados sobre o começo e como está o andamento da construção agora. É fato que houve um salto gigantesco com relação ao orçamento do projeto, mas esta questão é abordada de forma muito tímida na reportagem, sem qualquer reflexão sobre isso.
Foi perceptível que um enquadramento tendencioso que apenas mostrou as vantagens que os moradores de 390 municípios de quatro estados do Nordeste poderão ter com a obra. Quanto a isso, em uma sonora com uma moradora das proximidades da transposição enfatiza que a água da transposição não atenderá a toda população. Seria uma das possibilidades de abrir uma discussão mais abrangente sobre quem realmente será beneficiado com a obra, mas a questão não foi levantada.
A principal questão de impacto da transposição é a ambiental que não foi explorada. Fala-se da caatinga, de formas de conservação, mas segundo um agricultor, nada foi feito. Já o pesquisador diz que ela só será possível com a água do rio São Francisco e a repórter não questiona essa condição. Afinal, é caatinga ou vegetação ribeirinha pra precisar de água em abundância?
Em nenhum momento foi problematizado a viabilidade do projeto tendo em vista a situação atual do rio, com a mata ciliar totalmente degradada, do assoreamento e da poluição. Com essa abrangência de informações, o jornalismo deveria ter a obrigação de fazer uma reportagem mais crítica, ouvindo todas as versões da história e contrapondo os pontos de vista.





quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Vandalismo ou Liberdade de expressão?

Por: Aparecida Débora Sousa Pereira


A revista Veja, da editora Abril, fez uma grande reportagem e destacou em sua capa o caso da corrupção da Petrobras e que o Ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva e a Presidenta Dilma Rouseff, “sabiam tudo”. A revista foi antecipada em um dia, do convencional das publicações. Esta que levou cerca de 200 pessoas a protestarem em frente a porta da editora, com muita sujeira e pichação, esse protesto foi repudiado pela mídia, e os presidenciáveis também falaram a respeito. A Associação Nacional dos Jornais relatou como lamentável e intolerante a ação e que as pessoas não sabem conviver com a democracia e nem tão pouco a liberdade de imprensa.

Os manifestantes são integrantes da União da Juventude Socialista e alegam que o protesto não estava condenando a liberdade de imprensa, mas por estar em período eleitoral, uma revista de grande relevância nacional, relatar um fato de grande repercussão e que já estão sendo apurados e os envolvidos já condenados, colocar na capa a atual Presidenta e o Ex- Presidente Lula, com uma afirmativa “sabiam tudo”, isso dois dias antes das eleições foi no mínimo um ato que a Veja estava querendo “mudar” o rumo das eleições.

Considerar um protesto sempre como liberdade de expressão, está nos autos da democracia, onde as pessoas têm livre arbítrio para decidir o que é melhor e associável a sua vida. Agora manchar a imagem pública ou privada de determinada entidade, com sujeira e pichações, está relacionado a Vandalismo.  Entidades midiáticas querem esconder, ou ao menos tentar esconder que não era a intenção modificar os rumos das eleições, mas como, faltando menos de quarenta e oito horas para a votação, e a revista muda o dia de sua publicação e ainda faz propaganda da edição nas mídias? Querer trabalhar a ação dos populares para esquecer a barbaridade em tal edição da Veja é minimamente intolerável. Até onde vão usar a mídia como o quarto poder para influenciar e até mesmo modificar os ideais da população? 

A mídia está sendo usada como álibi pelas grandes empresas jornalísticas, em que seus objetivos estão inseridos claramente na forma como são conduzidas as matérias, entrevistas, como e quando são disponibilizados para a sociedade. Este procedimento fere ativamente a pratica jornalística que é estudada, onde deve ser cumprido a objetividade e imparcialidade, tentar implantar informações em determinados períodos, em especial o eleitoral, é desonesto e ilegal, por colocar apenas o que é de interesse da empresa, órgão individual.
 
 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Editorias policiais: release ou notícia?

Por Mirielle Cajuhy

Nessa era de tecnologia, acostumamo-nos a consumir os mais diversos produtos da forma mais rápida possível. No mundo da comunicação, parece que as notícias estão seguindo esta mesma linha. O que percebemos nos blogs da região e nas informações que neles são veiculadas, é que a velocidade - de publicação e consumo - é priorizada em detrimento de uma notícia bem apurada, com riqueza de informações e fomentadora de reflexão.
No dia 01 de novembro, o Blog do Geraldo José veiculou uma notícia intitulada: “CIPE - Caatinga entra em confronto com assaltantes, apreende armas, munições e dinheiro roubado em Uauá”. O texto, sem dúvidas, era um release policial, com direito aos termos mais complexos da área, no entanto, não estava creditado. Em situações como essa, em que nos deparamos com notícias que foram repassadas tais quais foram recebidas, surge uma necessidade de nos perguntarmos: que tipo de informação é essa que estamos consumindo?
A notícia aqui citada apresenta não só uma estrutura e uma linguagem que dificultam a compreensão do fato, como também, um enquadramento tendencioso que privilegia a ação da polícia (“mesmo diante da injusta e inesperada agressão, conseguiram atingir os meliantes, evidenciando de que o revide policial fora pontual”, entre outras expressões). Esta tendência já é esperada por se tratar de um release. Publicar textos assim é, inevitavelmente, beneficiar um lado da história no lugar do esclarecimento dos fatos e da reflexão a respeito do tema geral contido na notícia – nesse caso, a criminalidade.
É importante destacar, que, durante o confronto narrado no release em questão, dois homens morreram. No entanto, esse fato foi apenas uma notificação dentro do texto. A narração da troca de tiros, os muitos e diversos objetos apreendidos, a descrição densa e detalhista das armas e das balas que estavam com essas pessoas ganhou um destaque muito maior, logo, uma importância maior. Fica explícito que a cultura do “bandido tem que morrer mesmo” é fomentada pela polícia, repassada pelos meios de comunicação e acessada pelos leitores. Não cabe aqui ser dito que todas as pessoas que lêem esse tipo de notícia serão “manipuladas” pela informação. Mas, uma influência por conta do enquadramento, acontece.
Portanto, é necessário que fiquemos atentos aos blogs, às fontes que são utilizadas por eles e ao contexto das editorias das notícias. No caso da editoria policial da região, os releases se fazem muito presentes. Então, se analisarmos na íntegra, veremos que esta editoria passa a cumprir o papel de divulgar os atos policiais, e não de conscientizar as pessoas a respeito da criminalidade.


A Espetacular Vida de Suzane von Richthofen

Capítulo de Hoje: O Casamento
Por: Juciane Aleixo

Um casal foi encontrado morto dentro de casa em um bairro nobre de São Paulo no dia 31 de outubro de 2002. As investigações iniciais trabalhavam com a hipótese de assalto, mas dias depois foi descoberto que Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados pelos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, a mando de Suzane von Richthofen, filha deles.

Jovem, bonita, pertencente a classe alta e assassina dos próprios pais. O caso reunia vários elementos a serem explorados pela mídia, que  não demorou muito a repercuti-lo em todo país.  Rádio, televisão e impresso traziam diariamente novas informações envolvendo o caso. Uma novela que até hoje ainda rende capítulos na imprensa brasileira.

Suzane foi julgada e condenada pela morte dos pais no ano de 2006 e sempre que um fato novo acontece na vida dela, é amplamente divulgado pela mídia nacional. A novidade da vez é o casamento da presidiária com a também detenta Sandra Regina Ruiz, condenada por sequestro e assassinato.

Logo os veículos começaram a explorar a união do casal. O Jornal Correio, por exemplo, trouxe em sua matéria de capa de hoje, 30/10, o perfil da companheira de Suzane. "O casamento de Suzane von Richthofen com Sandra Gomes é o babado do momento", diz o texto da manchete. O termo babado do momento e uma fotomontagem com Suzane vestida de noiva ao lado de Sandra vestida com smoking já nos dão indício de como foi feito o encaminhamento da matéria.

A reportagem tem como título "Drão, o amor de Suzane" e subtítulo "Quem é Sandrão? Foi ela que roubou o coração de von Richthofen". Não fosse o sobrenome já conhecido, não seria difícil pensar que se trataria de mais uma notícia sobre celebridades em um portal de fofoca qualquer.

O jornal aborda o caso com sensacionalismo, enfatizando acontecimentos que não são relevantes para a sociedade. O que acrescentará ao leitor, em termos de conhecimento crítico, saber quem é a esposa de Suzane von Richthofen?

Assim a notícia foi tratada apenas como mercadoria. Tratar uma condenada pela justiça como celebridade não deveria ser o papel dos jornais, mas essa tem sido uma tendência da mídia na sociedade contemporânea: transformar fatos em espetáculos e tratar as notícias como entretenimento.

Os veículos estão, cada vez mais, tirando o foco da informação e destacando histórias sensacionalistas, visando atrair os leitores para comprar jornal. Assim, o jornalismo ao invés de levar as pessoas a refletirem criticamente está apenas alimentando o público com notícias sem conteúdo relevante, visando o lucro.

"Blogs - Amigo ou Inimigo do Bom Jornalismo?"

Por: Krishnamurti Silva de Lima
               
O quadro "Proteste Já" do programa CQC - Custe o Que Custar - da Rede Bandeirantes tem por sua essência acatar denúncias da população sobre irregularidades governamentais e ir investigá-los, interrogando os possíveis responsáveis e buscando soluções para as problemáticas que perturbem o bem-estar da localidade. Mesmo que caracterizado como um programa de Infotenimento (Termo criado por Dejavite [2006] que significa "informação com entretenimento"), os princípios básicos do jornalismo nesse quadro são respeitados, como a apuração dos fatos, a presença das fontes fundamentais que ilustram o problema, e a tentativa de ouvir todos os lados citados nessa problemática. Por enfrentar quase sempre autoridades políticas, os repórteres mexem com os brios dos representantes ao questionar tais anomalias públicas e provocam uma tensão que nem sempre terminam só em diálogos acalorados ou na falta total dele; Agressões e calúnias são frequentemente visíveis. 
            No começo da última semana de Outubro (26), a equipe do CQC com o repórter Oscar Filho foi até a cidade de Caxias, no Maranhão. O tema a ser abordado era o grande número da mortalidade infantil que o hospital municipal da cidade passou a apresentar nos últimos meses. Entre parentes das vítimas da situação e populares, o prefeito de Caxias, Léo Coutinho (PSB) também foi procurado para dar sua explicação sobre essa situação. No auge da entrevista, os ânimos de ambos se exaltaram e o prefeito foi chamado pelo repórter de "sem caráter" por se esquivar das perguntas feitas. - Por mais que o profissional da impressa seja humano e tenha sentimentos, o respeito ao entrevistado é imprescindível -. Após o término da fabricação da matéria, notícias surgiram em blogs atestando o acontecido, mas um em especial tratou-se de julgar o acontecimento revertendo e desqualificando o jornalista. O título e sua matéria apresentando discurso odioso e com termos risíveis apontava que o repórter estaria sob efeito de psicoativos e além de ofendido o representante majoritário de Caxias, teria contratado os serviços de profissionais do sexo e não pagado. A matéria não apresentava nenhuma prova concreta sobre tais atos, somente vídeos amadores contendo a entrevista que virou bate-boca.
                O termo blog – que a priori surgiu como weblog – brotou na internet antes dos anos 2000. Em tradução livre, blog significa “diário da rede” e fundamentalmente surgiu para que os seus donos postassem informações constantes sobre suas próprias vidas. Se no final de 2000, a quantidade de blogs mal chegava a 50, três anos depois mais de quatro milhões já apareciam na “blogosfera” abrangendo seu significado; Agora abarcam também o âmbito corporativo, organizacional e o jornalístico.
            A constatação que se pode ser feita sobre o uso dos blogs para as características jornalísticas é a que se valendo do anonimato da Internet, muitos se aproveitam para divulgar informações inverídicas e caluniosas sobre um grupo ou alguma pessoa em específico – como no caso da “pseudo-notícia” analisada nesse texto. O Marco Civil da Internet sancionado pela Presidenta Dilma Rousseff em Junho desse ano rege, entre outras coisas, que em caso de calúnia e difamação, o provedor que hospeda o blog caluniador deve também ser processo e medidas legais para o descobrimento do seu autor serão automaticamente feitas.

A discussão sobre o papel dos blogs no jornalismo tem vários vieses, mas um dos principais é o papel que esse deve apresentar para um bom cumprimento das normas dessa nobre profissão, pois o que entendemos é que a internet é um meio hoje, sine qua non para o jornalismo. 

CRÍTICA: Matérias sobre o casamento de Suzane Von Richthofen, nos jornais online "O Dia" e "Correio 24 horas" e a "Revista Veja Online"



Por: Eliane Simões


           Na semana pós-eleições presidenciais, um caso bastante peculiar vem sendo líder de acessos nos sites de notícias, desde o último dia 28 de outubro: a união homoafetiva entre a jovem Suzane von Richthofen e Sandra Regina Gomes, mas conhecida como Sandrão. Digo peculiar, não pela natureza da relação, que deveria ser vista como algo naturalmente aceito, mas pela vida egressa do casal. Suzane e Sandra estão no presídio feminino da cidade de Tremembé-SP, e foram condenadas a crimes considerados hediondos. E como agravante, Sandrão é ex-mulher de Elize Matsunaga, que matou e esquartejou seu marido em 2012, e também se encontra presa no mesmo local. Um roteiro perfeito de novela; triângulo amoroso inusitado, quase um romance policial. Ingredientes perfeitos para que qualquer jornalista "faça festa", e consiga chegar aos TT's (Tredding Topics/Assuntos mais comentados do Twitter).
            Verificando a mesma notícia nos sites dos jornais "O dia" (Suzane Von Richthofen se casa com sequestradora em presídio de SP)  e "Correio 24 horas" (Caso de Suzane von Richthofen com 'Sandrão' é antigo, diz agente penitenciária), e da "Revista Veja online" (Suzane Richthofen se casa dentro da cadeia. Com uma sequestradora)  é inegável as semelhanças nos textos,  o que parece soar como release ou "notícia plantada",  com uma leve variação de informações entre um e outro. Mais um fator é que todas as matérias não possuem um rosto, uma voz, uma subjetividade notadamente visível, já que não foram assinadas por jornalistas, mas pela redação - um conglomerado uniforme.
              Porém, o mais preocupante é como a construção do texto se formou ou se espetacularizou (como preferir), e tamanha a incidência de um preconceito velado na abordagem. Explico: as matérias expõem com força um certo descontentamento, ou estranhamento de seus autores, diante do triângulo amoroso entre três mulheres. E isso fica claro, quando todos os textos expõem o fato delas terem "regalias" na penitenciária por assumirem o relacionamento afetivo, como se duas pessoas do mesmo sexo que assumem um relacionamento amoroso na prisão deveriam ser privadas de cultivar esse sentimento, ou mesmo dormirem juntas como qualquer casal. Palavras como   "desfrutam de privilégios oferecidos apenas a casais"(Correio 24 horas), "com o casamento, Suzane tem o direito de dormir com a companheira (...) Com esta nova regalia (...)" . (O Dia), "cela especial" (Revista Veja Online)
              Aqui não se exime de nenhuma das três a culpabilidade por seus crimes, ou muito menos, se "perdoa" ou as "absolve" de qualquer coisa, apenas se entende que não cabe ao jornalista formar juízo de valor, mesmo que de maneira tênue ou subliminar. De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal, "todos são iguais perante a lei", e se a carta magna da nossa federação rege isso, quem somos nós, detentores do poder da escrita e da divulgação dos fatos, trabalhar com a diferenciação entre os seres? 

REFERÊNCIAS:

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Imprensa parcial: Informação prejudicada


Por Taiza Felisberto          
A mais de um ano os brasileiros têm intensificado sua busca por mudança. Em junho de 2013 milhares de brasileiros foram às ruas de todo o país reivindicando menores tarifas nos transportes públicos. E logo o protesto passou a ser  por melhores condições de saúde, educação e segurança, além de salários mais dignos para profissionais dessas áreas. Em 2014 o foco das manifestações voltou-se aos altos custos de  investimentos para sediar o campeonato mundial de futebol da FIFA. Nesta busca por mudanças, parte dos brasileiros luta por uma reforma  no sistema político, tema discutido do por organizações e movimento da sociedade civil brasileira desde 2004. 
O plataforma pela reforma do sistema político é estruturada em três eixos principais:  Fortalecimento da democracia direta, reforma do sistema eleitoral e controle social do processo eleitoral. Para o movimento, a democracia não se resume ao direito de voto, mas trata-se das formas de relacionamento e organização da sociedade. Com a implantação dos eixos citados a população passaria a ter mais acesso e participação nos processos e decisões  da federação. A busca por essa mudança se intensificou durante o período de campanha eleitoral, quando os militantes da causa fizeram também sua campanha. A presidente Dilma declarou seu apoio ao movimento em sua campanha e priorizou o compromisso em seu discurso de vitória.
Ignorando os benefícios que a reforma do sistema político venha a trazer, o jornal Folha de São Paulo publicou no dia 30 de outubro a matéria intitulada Reforma política é "erro cabal", diz cientista político. Já no título fica clara a posição tomada sobre o assunto, a expressão destacada da fala de Fabiano Santos, cientista político, passa a idéia de oposição, reforçada em todo o texto em que são usadas expressões como: balela, irresponsabilidade, caixa de pandora, desastre, sonho dourado. Todas elas referindo-se a reforma política. E para reforçar a credibilidade de sua fonte o jornal ressalta que é tido como um dos principais estudiosos do legislativo do país.
Fabiano Santos ainda compara a proposta de reforma no Brasil com uma reforma mal sucedida na Itália. O Folha não tem a preocupação de buscar outra fonte que fosse a favor para fazer um contraponto do assunto, assim como não se preocupa em informar ao leitor em que consiste a tal reforma política condenada pela matéria. Simplesmente esqueceram a imparcialidade jornalista. Por trás da figura do cientista político o jornal deixou bem claro sua posição, ressaltando que esse "grande erro" é uma prioridade do governo Dilma.   

O jornalismo está em função de quais interesses?

Por Mariana Ramos

Dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, a revista Veja  antecipou a saída da edição do semanário para antes do último debate eleitoral televisionado pela Rede Globo. Na edição, a revista publicou uma reportagem especial em que, supostamente, o doleiro Alberto Yossef declara, em depoimento à Polícia Federal, que o ex presidente Luís Inácio Lula da Silva e a atual presidenta Dilma Roussef tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás.
A repercussão da reportagem em um período de uma corrida presidenciável  acirrada e com  pesquisas que colocavam a atual presidente a frente do seu adversário, tomou conta das redes sociais e dos programas eleitorais. Muitos militantes que apoiavam a reeleição de Dilma Roussef ficaram revoltados com a abordagem da matéria e protestaram na sede da editora Abril, em São Paulo. Os manifestantes jogaram lixo e picharam a fachada do prédio com frases: "Fora Veja" e "Veja mente".
Na reportagem, a Veja vai contra as regras e a ética do jornalismo, ao colocar como fonte um depoimento de um processo que corre em segredo de Justiça, sem dar direito de resposta às pessoas citadas na reportagem. É regra do jornalismo ouvir os dois lados da história, além de investigar e apurar a fundo uma acusação como esta, que poderia mudar os rumos das eleições. Além disso, na matéria o jornalista coloca juízo de valor, além de dá um julgamento prévio aos leitores.
Sabemos que o posicionamento político da revista vai de encontro ao atual governo e que uma reportagem bem apurada e dando voz a todos os envolvidos leva muito tempo. Mas com as eleições se aproximando eles resolveram antecipar a matéria e a edição, vendo o intuito claro do jornalismo a favor dos interesses políticos da empresa.  
Além disso, na reportagem são mostradas acusações sem qualquer prova concreta. Precisando ainda analisar a credibilidade da fonte utilizada, sendo que todo jornalista deve desconfiar de toda e qualquer fonte. É visto que o papel do jornalismo de informar com rigor e ética para formar uma opinião pública democrática foi quebrado nessa reportagem, servindo aos interesses políticos e financeiros da revista por meio da distorção, falta de provas e negligência aos envolvidos citados.  






quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DOCES OU TRAVESSURAS?



Um conto jornalístico de suspense, estrelando o Exame Nacional do Ensino Médio e o G1 Petrolina.

Por Heitor Ferreira

No fim de semana (dias 08 e 09 de novembro), a pauta agendada foi o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Como evento de abrangência nacional, a prova é acompanhada pela mídia quase uma mini-final de Copa do Mundo (com o Brasil jogando, claro), desde a véspera ao desfecho, pontuando o que é pitoresco. Mas na tentativa de anunciar a “largada” na cidade, o G1 Petrolina deu um exemplo pouco inspirado de como localizar o fato.
O título faz uma associação inusitada com a prova. Preces e doces? Esses elementos são pontuados fracamente na matéria, e não são relevantes nem com muito boa vontade do leitor. O título parece reciclado de alguma matéria de Halloween que não saiu. Após o título pouco inspirado e um lead descritivo e desinteressante, são apresentadas personagens típicas de notícia sobre o processo seletivo.
Temos a vestibulanda tensa de primeira viagem, pesando as sortes e azares do dia. Só faltou uma dica de simpatia pra fazer a prova bem. Em seguida, a veterana que não parece muito confiante; a concorrente iniciante que diz que se preparou bem, e finalizando com a professora com uma fala-reforço (“[...] o Enem se tornou o processo seletivo mais importante do país [...]”). Todas fazem menções diretas ou indiretas em todas as falas sobre a pressão pré-prova, que não é nada incomum. A fotografia da matéria confunde: é apenas sugerido que as pessoas nas ilustrações são as mesmas que foram entrevistadas, e isso apenas pela posição em relação ao texto. As legendas se limitam à descrição.
O resultado é uma quase-nota um tanto sem foco, que podia ter sido resumida em ainda menos linhas e com um curto título, como: “Começa o ENEM em Petrolina. Candidatos tensos”. Houve exemplos mais completos sobre o preparo de quem ia prestar a prova, e se era para fazer uma abordagem rasa e espetacular em cima de fato comum, talvez fosse preferível esperar os inevitáveis atrasados para a prova. Talvez até eleger uma candidata para concorrer à “musa do ENEM” (que, posto de lado o sensacionalismo, é uma pauta que se bem utilizada rende um tratamento digno ao elemento humano em questão).
Na tentativa de situar o Exame Nacional do Ensino Médio para o leitor petrolinense, o G1 local tem séria chance de ter zerado a pontuação. No fim, o doce deve ser para cortar o amargor que foi ler aquilo, e a reza para afastar o encosto que rondando a pauta. Quem sabe a Amanda Alli (a musa ENEM 2014), que pretende cursar jornalismo, faça melhor quando vier a vez dela.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O CASAMENTO DE SUZANE RICHTHOFEN E A "COLUNA CRIMINAL"



Por Heitor Ferreira

Na terça-feira (28/10), foi noticiado que Suzane von Richthofen, conhecida nacionalmente pelo assassinato dos pais, casou-se com outra presidiária, Sandra Regina Gomes, o Sandrão. Esta última era notória por se relacionar anteriormente, com Elize Matsunaga, condenada pelo esquartejamento do marido. Essa atualização esclarece em parte a recusa de Suzane pelo regime semi-aberto, em agosto de 2014.
Mesmo os presidiários que são considerados "monstros" pela opinião popular ainda são seres humanos, pelo menos o suficiente para serem considerados como tal. Ainda sentem anseios tanto quanto qualquer cidadão em liberdade. O cárcere é uma condição de pena e não de privilégio, mas ainda assim certas concessões, como o casamento, podem ser feitas justamente para manter os reclusos sãos. É sabido que nem todos os presos brasileiros tem tais benefícios, mas essa é uma discussão à parte.
Houve apenas de fato uma apuração: todas as publicações online referenciam a Folha de S. Paulo como a fonte da notícia. O texto da Folha é, naturalmente, o mais completo, inclusive explicita as condições em que as presas podem consumar matrimônio em regime, e como Suzane já havia usado de laços afetivos para obter vantagens nos cárceres por onde já passou. A forma como a notícia foi replicada fora do veículo original incomoda; outras publicações enfatizaram mais as circunstâncias e as personagens do relacionamento, principalmente em seus títulos, em conotações que pudessem induzir ao leitor a conclusões de natureza religiosa ou de descrença no sistema penitenciário.
Tremembé, a "prisão dos famosos" onde está casal, representa tal particularidade em um país com cadeias miseráveis e superlotadas, que se tornou foco de um nicho pouco jornalístico (leia-se: assunto para os noticiários sensacionalistas de início de tarde) que explora a curiosidade do público sobre esses criminosos. E nessa demanda crescente em atender os interesses do público, a glorificação desses indivíduos pelo jornalismo criminal reduz a seriedade desse segmento à mesma de uma matéria de coluna social.