terça-feira, 27 de maio de 2014

Matérias factuais, interpretativas ou analíticas?

Por Paulo Costa

A notícia, "Moradores do Dom Avelar fecham rua em protesto contra “falta de estrutura” no bairro", foi publicada num blog – um tipo de plataforma que tem como objetivo veicular opiniões dos titulares sobre qualquer assunto do interesse destes. 

O texto informa sobre uma manifestação popular, no bairro Dom Avelar em Petrolina, pela melhoria de sua infraestrutura, que a muito, segundo a nota, vem esperando por uma solução da prefeitura.

A observação a seguir, que o repórter faz com relação a fato ocorrido "Os manifestantes reivindicam há tempos uma série de melhorias para o bairro, cuja situação se agravou com as intensas chuvas desta semana", trata-se de informações que deveriam estar na boca da(s) fonte(s). Em uma matéria analítica ou interpretativa sobre temas específicos, dos quais o jornalista é um estudioso, talvez coubesse esse tipo de postura, mas em temas factuais é possível que não fique interessante, porque pode parecer uma assessoria ou uma nota político-partidária.

O segundo parágrafo informa que há muito tempo os moradores reivindicam por melhorias. Caberia, nesse trecho, a fala de algum líder comunitário comprovando o fato com documentos, como ofícios, abaixo-assinados, denúncias ao ministério público etc. No último parágrafo, por exemplo, ao dizer: “A versão dos moradores”, a nota generaliza e reduz toda a população do bairro a um lugar comum. É impossível que o repórter tenha entrevistado todos os moradores. Se no lugar de “A versão dos moradores”, tivesse, “segundo fulano de tal, os moradores...” o problema da falta de isenção estaria resolvido.

Outra questão é a resposta da prefeitura. O texto diz que a reportagem não  conseguiu localizar alguém que pudesse falar sobre o caso. A matéria foi postada depois das dezoito horas. Qual é o horário de funcionamento da prefeitura? A instantaneidade da internet talvez dificulte que a notícia saia completa.

A matéria também possibilita ao repórter uma pauta maior, que aborde questões como: existência, pela prefeitura, de projetos de revitalização dos bairros, que vislumbrem alternativas para minimizar ou evitar problemas causados por fortes chuvas ou de povoamento de áreas suscetíveis a riscos naturais. Programas estaduais e/ou federais que disponham de recursos aos municípios, para ações desse tipo.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Cobertura da greve da PM no blog Geraldo José

Por Víctor Fonseca 

Tido como uma das mais influentes fontes de informações da população no Vale do São Francisco, sobretudo em Juazeiro, o blog Geraldo José se dedica a temas variados, entre eles a política. É sobre uma matéria nessa área, publicada em data de 16 de abril de 2014, às 18h30, com o título “Greve da PM – Governador diz que decisão unilateral de greve levou à solicitação de tropas federais”, que o presente trabalho pretende se debruçar, analisando-a sob diferentes aspectos.

A começar pelo título, ainda que baseado no dizer da autoridade, demonstra uma relativa incoerência ao acusar a categoria em greve de assim ter decidido de modo unilateral, algo redundante, afinal não é de acordos bilaterais que se originam greves, mas sim do rompimento por uma das partes que passa a desacreditar no processo de negociação.

O texto apresenta caráter promocional do Governo, com fortes trações de release de assessoria, sem em momento algum contestar a ideia apresentada ou confrontar com a visão da outra parte envolvida. Apenas fontes oficiais a favor do Estado foram consultadas, como o General que comanda a Região Militar e o Procurador-Geral do Ministério Público Estadual.

Assim sendo, o principal problema parece ser enfoque dado ao tema, enquadrado com um caráter predominantemente descritivo das ações do governo, sem analisar criticamente a pertinência das informações oficiais e o modo como os representantes da classe viam os fatos.

Por ser o blog um ambiente propício para discussões e reflexões, extrapolando o caráter de mero transmissor de notícias, cabiam perfeitamente indagações sobre todo o contexto que cercava uma crise de tal magnitude. Entretanto, a equipe de produção se limitou a reportar a mensagem oficial do Governo, sem abrir maior espaço para a devida releitura.

Também se detecta a ausência de dados para detalhar o que estava sendo anunciado, como a indicação de reajuste do percentual de gratificação, sem, contudo, apresentar o índice, número essencial para que cada leitor seja capaz de analisar individualmente qual das partes adotou uma posição mais razoável para o quadro que se apresentava.

Enfim, princípios basilares como a isonomia e imparcialidade não foram contemplados na produção da matéria, que se pautou unicamente na ideologia que o governador pretendia passar. As contestações naturalmente cabíveis não foram apresentadas, o que tira do texto uma riqueza necessária, que fortaleceria o caráter distinto que o blog se propõe a ter enquanto referência regional.

domingo, 25 de maio de 2014

A cobertura do portal de notícias “Gazzeta” sobre a greve dos correios em Petrolina

Por Lícia Lara Dantas

O Jornal “Gazzeta do São Francisco” está situado na cidade de Petrolina-PE e tem seu portal de notícias como o principal suporte de seu conteúdo, visto que sua versão impressa só é veiculada uma vez por semana e em datas comemorativas. A proposta é analisar a cobertura dada pelo veículo à greve dos correios na cidade no ano de 2014. A greve aconteceu em 13 estados, mas como o veículo pauta a região do vale do São Francisco, a cobertura foi feita de forma local.

O assunto em questão – greve dos correios – durou cerca de dois meses, o que é observado na primeira matéria com esse tema no jornal e na última, as quais datam, respectivamente, 10 de fevereiro e 11 de março. Ao total, são sete matérias relacionadas ao tema. Como a quantidade é grande, uma saída foi a observação de algum dos elementos que compõem uma matéria, neste caso, os temas das matérias e as fotos que as acompanharam.

Um fato interessante sobre a temática escolhida, é que o portal de noticiais não divulgou nenhuma matéria com o início da greve, mas sim uma quando a mesma já tinha mais de dez dias e também não publicou nada sobre o fim da greve. Observação importante, já que foram sete matérias sobre o tema. Dentre os subtemas, podemos perceber aspectos negativos levantados por os correios estarem parados e quais as causas de insatisfação dos grevistas. O jornal parece ficar por ora a favor da greve e por ora contra. Já que algumas matérias ressaltam a quantidade de correspondências não entregues e outras mostram a situação nada satisfatória, na qual os grevistas trabalham.
A última matéria sobre a greve dos correios foi ao ar no dia 11 de março, relatando a decisão do TST sobre a negação do provimento da demanda dos sindicatos sobre a empresa. A notícia traz a resolução de forma bem técnica, mas não esclarece como ficará o movimento a partir daquele momento e nem esclarece sobre o fim da greve, o qual ocorreu dois dias depois da publicação dessa matéria. Nada mais foi publicado no portal de notícias “Gazzeta” sobre o tema.
Roland Barthes colocou que a fotografia “no fundo é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa”. E nos faz pensar sobre o papel da imagem dentro do jornalismo, do fotojornalismo. A imagem pode colocar um pensamento a mais ou despertar total interesse por uma matéria.
No jornal Gazzeta, observamos a ausência da qualidade fotográfica em algumas imagens da greve. Todas sempre da fachada dos correios, sem nenhuma novidade, sempre a mesma faixa escrita “estamos em greve”. Essa foto ilustraria bem uma matéria sobre o tema, mas só uma. No entanto, duas imagens das sete matérias chamaram atenção por levar ao que Barthes trouxe lá no início – ao pensamento. Uma delas, um dos grevistas aparece de braços cruzados e seu rosto não está no plano da foto. Os braços cruzados estão de acordo com o título da matéria e conseguem mostrar um pouco além do que é dito no texto, como que os grevistas querem trabalhar, mas estão de mãos atadas diante daquela situação. Outra imagem relevante é a de um dos carteiros com o olhar perdido no horizonte. Nota-se uma esperança de que resoluções melhores estariam por ocorrer. Três dias depois, a greve acabou e os grevistas conseguiram a principal demanda que estava sendo questionada.

Voltando a ideia de Barthes sobre a fotografia como subversiva quando é pensativa, notamos a necessidade das fotografias do jornal em prestarem atenção em seu aspecto notícia, conseguindo aliar o pensamento reflexivo através de uma imagem. O texto apareceria como complemento da imagem e a imagem como complemento e reflexão do texto, não meramente ilustração.