quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O CASAMENTO DE SUZANE RICHTHOFEN E A "COLUNA CRIMINAL"



Por Heitor Ferreira

Na terça-feira (28/10), foi noticiado que Suzane von Richthofen, conhecida nacionalmente pelo assassinato dos pais, casou-se com outra presidiária, Sandra Regina Gomes, o Sandrão. Esta última era notória por se relacionar anteriormente, com Elize Matsunaga, condenada pelo esquartejamento do marido. Essa atualização esclarece em parte a recusa de Suzane pelo regime semi-aberto, em agosto de 2014.
Mesmo os presidiários que são considerados "monstros" pela opinião popular ainda são seres humanos, pelo menos o suficiente para serem considerados como tal. Ainda sentem anseios tanto quanto qualquer cidadão em liberdade. O cárcere é uma condição de pena e não de privilégio, mas ainda assim certas concessões, como o casamento, podem ser feitas justamente para manter os reclusos sãos. É sabido que nem todos os presos brasileiros tem tais benefícios, mas essa é uma discussão à parte.
Houve apenas de fato uma apuração: todas as publicações online referenciam a Folha de S. Paulo como a fonte da notícia. O texto da Folha é, naturalmente, o mais completo, inclusive explicita as condições em que as presas podem consumar matrimônio em regime, e como Suzane já havia usado de laços afetivos para obter vantagens nos cárceres por onde já passou. A forma como a notícia foi replicada fora do veículo original incomoda; outras publicações enfatizaram mais as circunstâncias e as personagens do relacionamento, principalmente em seus títulos, em conotações que pudessem induzir ao leitor a conclusões de natureza religiosa ou de descrença no sistema penitenciário.
Tremembé, a "prisão dos famosos" onde está casal, representa tal particularidade em um país com cadeias miseráveis e superlotadas, que se tornou foco de um nicho pouco jornalístico (leia-se: assunto para os noticiários sensacionalistas de início de tarde) que explora a curiosidade do público sobre esses criminosos. E nessa demanda crescente em atender os interesses do público, a glorificação desses indivíduos pelo jornalismo criminal reduz a seriedade desse segmento à mesma de uma matéria de coluna social.



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