Por Heitor
Ferreira
Na terça-feira (28/10),
foi noticiado que Suzane von Richthofen, conhecida nacionalmente pelo
assassinato dos pais, casou-se com outra presidiária, Sandra Regina Gomes, o Sandrão. Esta
última era notória por se relacionar anteriormente, com Elize Matsunaga,
condenada pelo esquartejamento
do marido. Essa atualização esclarece em parte a recusa de
Suzane pelo regime semi-aberto, em agosto de 2014.
Mesmo os presidiários
que são considerados "monstros" pela opinião popular ainda são seres
humanos, pelo menos o suficiente para serem considerados como tal. Ainda sentem
anseios tanto quanto qualquer cidadão em liberdade. O cárcere é uma condição de
pena e não de privilégio, mas ainda assim certas concessões, como o casamento,
podem ser feitas justamente para manter os reclusos sãos. É sabido que nem
todos os presos brasileiros tem tais benefícios, mas essa é uma discussão à
parte.
Houve apenas de fato
uma apuração: todas as publicações online referenciam a Folha
de S. Paulo como a fonte da notícia. O texto da
Folha é, naturalmente, o mais completo, inclusive explicita as condições em que
as presas podem consumar matrimônio em regime, e como Suzane já havia usado de
laços afetivos para obter vantagens nos cárceres por onde já passou. A forma como
a notícia foi replicada fora do veículo original incomoda; outras
publicações
enfatizaram mais as circunstâncias e as personagens do relacionamento,
principalmente em seus títulos, em conotações que pudessem induzir ao leitor a
conclusões de natureza religiosa ou de descrença no sistema penitenciário.
Tremembé,
a "prisão dos famosos" onde está casal, representa tal
particularidade em um país com cadeias miseráveis e superlotadas, que se tornou
foco de um nicho pouco jornalístico (leia-se: assunto para os noticiários
sensacionalistas de início de tarde) que explora a curiosidade do público sobre
esses criminosos. E nessa demanda crescente em atender os interesses do público, a glorificação desses indivíduos pelo
jornalismo criminal reduz a seriedade desse segmento à mesma de uma
matéria de coluna social.
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