Por Maria Akemi Yamakawa
A maneira como o jornalismo brasileiro vem
retratando os casos policiais já virou tema de inúmeras discussões entre
profissionais da comunicação, tendo inclusive, se tornado tema de um livro
produzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo. No Vale do São
Francisco, é comumente copiado um padrão de exposição de programas de grande
audiência como Cidade Alerta e Brasil Urgente, exibidos para todo país.
Na edição do jornal de meio dia, exibido na sexta-feira
11, a TV Grande Rio, em Petrolina exibiu uma matéria sobre um assassinato na
cidade. Com pouca duração - menos de 30 segundos - a notícia abusou das imagens
dramáticas e exploração da tragédia. Todo o “espetáculo” construído em menos de
um minuto, poderia ter sido noticiado de outra forma, mas não seria suficiente
para prender a atenção da audiência.
A cabeça da matéria – o título da notícia – foi lida
pelo apresentador do telejornal, mas a opção ética do programa feriu os
direitos da vítima e sua família. Tendo como opção de apresentar o fato ao
público do telejornal apenas narrando o crime, as escolhas da edição optaram
por noticiar a história utilizando recursos de imagem.
De acordo com João Canavilhas, a opção do jornal se deu pelo fato de “para que as audiências
aumentem é necessário tornar a informação mais apelativa e o caminho mais fácil
é o da opção pela informação-espectáculo” (CANAVILHAS, 2001). Assim como
jornais impressos, webjornais e o rádio, a televisão busca maior lucro
(refletido na audiência) e faz uso de todos os meios para conseguir satisfazer
seus anseios.
Aqui cabe uma crítica à postura da equipe
responsável por cobrir essa matéria e por editá-la: o corpo da vítima, já morta
no chão, foi exibido sem nenhum pudor. No momento da cena em que duas mulheres
chegam ao local do crime, provavelmente familiares da vítima, o cameraman aproxima e fecha a imagem nelas (e assim continua por alguns segundos), tendo como “cereja no
bolo”, o recurso de sobe som, podendo-se ouvir os choros e gritos de desespero
das mulheres.
Assim como inúmeros outros casos, a matéria em
questão faz uso indiscriminado da imagem alheia e do sofrimento das pessoas
para veicular uma notícia. O questionamento feito por Eduardo Altomare Ariente é mais do
pertinente nessa situação: “seria ético expor a dor alheia sem qualquer
preocupação com a anuência das pessoas, simplesmente para servirem de
ilustração da capa de jornais?” (ARIENTE, 2008).
O questionamento que ficou após os 30 segundos de
matéria foi: por que fomos expostos a esse tipo de cobertura? Não haveria outra
opção de noticiar tal fato sem explorar os recursos utilizados na matéria em
questão? Onde ficou a ética jornalística do repórter e cameraman e da própria equipe de edição durante a produção dessa
matéria?
A notícia exibida é mais um exemplo de que a ética
na cobertura de matérias jornalísticas policiais é posta de lado, pensando
apenas na audiência. Para a jornalista Thamires Coêlho, os princípios deontológicos aplicados
nesse tipo de cobertura “não atraem audiência, não geram acesso, não aumentam
pontuação do Ibope” (COÊLHO, 2012).
Porém, antes de estar comprometido com os interesses
comerciais da empresa na qual trabalha, o jornalista deve estar comprometido
com seus valores éticos e morais. Ele tem um dever cívico com a população de
noticiar a verdade dos fatos, sem ferir o direito das partes envolvidas – seja
explorando ou feririndo a dignidade humana.
REFERÊNCIAS
ARIENTE, Eduardo Altomare. Direito de imagem e ética jornalística. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/artigos10_d.htm>. Acesso em 11 de abril de 2014.
COÊLHO, Thamires. Sensacionalismo travestido de
jornalismo policial. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed697_sensacionalismo_travestido_de_jornalismo_policial>. Acesso em 11 de abril de 2014.
G1, Homem é
assassinado nesta sexta (11) em Petrolina. Disponível em: <http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/grtv-1edicao/videos/t/edicoes/v/homem-e-assassinado-nesta-sexta-11-em-petrolina/3275085/>. Acesso em 11 de abril de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário