quarta-feira, 21 de maio de 2014

Sensacionalismo e a exploração do drama em matérias policiais

Por Maria Akemi Yamakawa

A maneira como o jornalismo brasileiro vem retratando os casos policiais já virou tema de inúmeras discussões entre profissionais da comunicação, tendo inclusive, se tornado tema de um livro produzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo. No Vale do São Francisco, é comumente copiado um padrão de exposição de programas de grande audiência como Cidade Alerta e Brasil Urgente, exibidos para todo país.

Na edição do jornal de meio dia, exibido na sexta-feira 11, a TV Grande Rio, em Petrolina exibiu uma matéria sobre um assassinato na cidade. Com pouca duração - menos de 30 segundos - a notícia abusou das imagens dramáticas e exploração da tragédia. Todo o “espetáculo” construído em menos de um minuto, poderia ter sido noticiado de outra forma, mas não seria suficiente para prender a atenção da audiência.

A cabeça da matéria – o título da notícia – foi lida pelo apresentador do telejornal, mas a opção ética do programa feriu os direitos da vítima e sua família. Tendo como opção de apresentar o fato ao público do telejornal apenas narrando o crime, as escolhas da edição optaram por noticiar a história utilizando recursos de imagem. 

De acordo com João Canavilhas, a opção do jornal se deu  pelo fato de  “para que as audiências aumentem é necessário tornar a informação mais apelativa e o caminho mais fácil é o da opção pela informação-espectáculo” (CANAVILHAS, 2001). Assim como jornais impressos, webjornais e o rádio, a televisão busca maior lucro (refletido na audiência) e faz uso de todos os meios para conseguir satisfazer seus anseios.

Aqui cabe uma crítica à postura da equipe responsável por cobrir essa matéria e por editá-la: o corpo da vítima, já morta no chão, foi exibido sem nenhum pudor. No momento da cena em que duas mulheres chegam ao local do crime, provavelmente familiares da vítima, o cameraman aproxima e fecha a imagem nelas (e assim continua por alguns segundos), tendo como “cereja no bolo”, o recurso de sobe som, podendo-se ouvir os choros e gritos de desespero das mulheres.

Assim como inúmeros outros casos, a matéria em questão faz uso indiscriminado da imagem alheia e do sofrimento das pessoas para veicular uma notícia. O questionamento feito por Eduardo Altomare Ariente é mais do pertinente nessa situação: “seria ético expor a dor alheia sem qualquer preocupação com a anuência das pessoas, simplesmente para servirem de ilustração da capa de jornais?” (ARIENTE, 2008).

O questionamento que ficou após os 30 segundos de matéria foi: por que fomos expostos a esse tipo de cobertura? Não haveria outra opção de noticiar tal fato sem explorar os recursos utilizados na matéria em questão? Onde ficou a ética jornalística do repórter e cameraman e da própria equipe de edição durante a produção dessa matéria?

A notícia exibida é mais um exemplo de que a ética na cobertura de matérias jornalísticas policiais é posta de lado, pensando apenas na audiência. Para a jornalista Thamires Coêlho, os princípios deontológicos aplicados nesse tipo de cobertura “não atraem audiência, não geram acesso, não aumentam pontuação do Ibope” (COÊLHO, 2012).

Porém, antes de estar comprometido com os interesses comerciais da empresa na qual trabalha, o jornalista deve estar comprometido com seus valores éticos e morais. Ele tem um dever cívico com a população de noticiar a verdade dos fatos, sem ferir o direito das partes envolvidas – seja explorando ou feririndo a dignidade humana. 


REFERÊNCIAS

ARIENTE, Eduardo Altomare. Direito de imagem e ética jornalística. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/artigos10_d.htm>. Acesso em 11 de abril de 2014.

CANAVILHAS, João. Telejornalismo. O domínio da informação-espectáculo na televisão. 2001, Portugal.

COÊLHO, Thamires. Sensacionalismo travestido de jornalismo policial. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed697_sensacionalismo_travestido_de_jornalismo_policial>. Acesso em 11 de abril de 2014.

G1, Homem é assassinado nesta sexta (11) em Petrolina. Disponível em: <http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/grtv-1edicao/videos/t/edicoes/v/homem-e-assassinado-nesta-sexta-11-em-petrolina/3275085/>. Acesso em 11 de abril de 2014.

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