Mariana
Ramos
A transposição do
Rio São Francisco é o maior projeto de infraestrutura hídrica do
país, sendo o grande investimento contra a seca para o nordeste. O
projeto começou em 2007 e deveria ser entregue em 2012, mas as obras
estão em atraso e o orçamento estimado em R$ 4 bilhões, hoje está
orçado em R$ 8,2 bilhões.
Na última
segunda-feira (10) foi ao ar no jornal GRTV
1ª edição da
TV Grande Rio, emissora de televisão filiada da Rede Globo em
Petrolina – PE, uma matéria sobre o atraso nas obras da
transposição. É interessante ressaltar que a matéria foi ao ar
também no Jornal
Nacional
em um período pós eleição, no qual o atual governo está passando
por uma crise de corrupção e a matéria poderia aumentar os
problemas já existentes.
A reportagem “Obras da Transposição do Rio São Francisco continuam atrasadas” não
apresenta os pontos controversos do projeto, em contra partida
enfatiza que a obra levará “as águas da esperança”. Reforçando
assim o estereótipo do Nordeste, sempre abordando a temática da
seca e mostrando como única solução a transposição.
O atraso é o
gancho principal da matéria, são mostrados dados sobre o começo e
como está o andamento da construção agora. É fato que houve um
salto gigantesco com relação ao orçamento do projeto, mas esta
questão é abordada de forma muito tímida na reportagem, sem
qualquer reflexão sobre isso.
Foi perceptível que
um enquadramento tendencioso que apenas mostrou as vantagens que os
moradores de 390 municípios de quatro estados do Nordeste poderão
ter com a obra. Quanto a isso, em uma sonora com uma moradora das
proximidades da transposição enfatiza que a água da transposição
não atenderá a toda população. Seria uma das possibilidades de
abrir uma discussão mais abrangente sobre quem realmente será
beneficiado com a obra, mas a questão não foi levantada.
A principal questão
de impacto da transposição é a ambiental que não foi explorada.
Fala-se da caatinga, de formas de conservação, mas segundo um
agricultor, nada foi feito. Já o
pesquisador diz que ela só será possível com a água do rio São
Francisco e a repórter não questiona essa condição. Afinal, é
caatinga ou vegetação ribeirinha pra precisar de água em
abundância?
Em nenhum momento
foi problematizado a viabilidade do projeto tendo em vista a situação
atual do rio, com a mata ciliar totalmente degradada, do assoreamento
e da poluição. Com essa abrangência de informações, o
jornalismo deveria ter a obrigação de fazer uma reportagem mais
crítica, ouvindo todas as versões da história e contrapondo os
pontos de vista.
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