sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O que dizer sobre a Transposição do Rio São Francisco?

Mariana Ramos
A transposição do Rio São Francisco é o maior projeto de infraestrutura hídrica do país, sendo o grande investimento contra a seca para o nordeste. O projeto começou em 2007 e deveria ser entregue em 2012, mas as obras estão em atraso e o orçamento estimado em R$ 4 bilhões, hoje está orçado em R$ 8,2 bilhões.
Na última segunda-feira (10) foi ao ar no jornal GRTV 1ª edição da TV Grande Rio, emissora de televisão filiada da Rede Globo em Petrolina – PE, uma matéria sobre o atraso nas obras da transposição. É interessante ressaltar que a matéria foi ao ar também no Jornal Nacional em um período pós eleição, no qual o atual governo está passando por uma crise de corrupção e a matéria poderia aumentar os problemas já existentes.
A reportagem “Obras da Transposição do Rio São Francisco continuam atrasadas” não apresenta os pontos controversos do projeto, em contra partida enfatiza que a obra levará “as águas da esperança”. Reforçando assim o estereótipo do Nordeste, sempre abordando a temática da seca e mostrando como única solução a transposição.
O atraso é o gancho principal da matéria, são mostrados dados sobre o começo e como está o andamento da construção agora. É fato que houve um salto gigantesco com relação ao orçamento do projeto, mas esta questão é abordada de forma muito tímida na reportagem, sem qualquer reflexão sobre isso.
Foi perceptível que um enquadramento tendencioso que apenas mostrou as vantagens que os moradores de 390 municípios de quatro estados do Nordeste poderão ter com a obra. Quanto a isso, em uma sonora com uma moradora das proximidades da transposição enfatiza que a água da transposição não atenderá a toda população. Seria uma das possibilidades de abrir uma discussão mais abrangente sobre quem realmente será beneficiado com a obra, mas a questão não foi levantada.
A principal questão de impacto da transposição é a ambiental que não foi explorada. Fala-se da caatinga, de formas de conservação, mas segundo um agricultor, nada foi feito. Já o pesquisador diz que ela só será possível com a água do rio São Francisco e a repórter não questiona essa condição. Afinal, é caatinga ou vegetação ribeirinha pra precisar de água em abundância?
Em nenhum momento foi problematizado a viabilidade do projeto tendo em vista a situação atual do rio, com a mata ciliar totalmente degradada, do assoreamento e da poluição. Com essa abrangência de informações, o jornalismo deveria ter a obrigação de fazer uma reportagem mais crítica, ouvindo todas as versões da história e contrapondo os pontos de vista.





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