segunda-feira, 17 de novembro de 2014

CRÍTICA: Matérias sobre o casamento de Suzane Von Richthofen, nos jornais online "O Dia" e "Correio 24 horas" e a "Revista Veja Online"



Por: Eliane Simões


           Na semana pós-eleições presidenciais, um caso bastante peculiar vem sendo líder de acessos nos sites de notícias, desde o último dia 28 de outubro: a união homoafetiva entre a jovem Suzane von Richthofen e Sandra Regina Gomes, mas conhecida como Sandrão. Digo peculiar, não pela natureza da relação, que deveria ser vista como algo naturalmente aceito, mas pela vida egressa do casal. Suzane e Sandra estão no presídio feminino da cidade de Tremembé-SP, e foram condenadas a crimes considerados hediondos. E como agravante, Sandrão é ex-mulher de Elize Matsunaga, que matou e esquartejou seu marido em 2012, e também se encontra presa no mesmo local. Um roteiro perfeito de novela; triângulo amoroso inusitado, quase um romance policial. Ingredientes perfeitos para que qualquer jornalista "faça festa", e consiga chegar aos TT's (Tredding Topics/Assuntos mais comentados do Twitter).
            Verificando a mesma notícia nos sites dos jornais "O dia" (Suzane Von Richthofen se casa com sequestradora em presídio de SP)  e "Correio 24 horas" (Caso de Suzane von Richthofen com 'Sandrão' é antigo, diz agente penitenciária), e da "Revista Veja online" (Suzane Richthofen se casa dentro da cadeia. Com uma sequestradora)  é inegável as semelhanças nos textos,  o que parece soar como release ou "notícia plantada",  com uma leve variação de informações entre um e outro. Mais um fator é que todas as matérias não possuem um rosto, uma voz, uma subjetividade notadamente visível, já que não foram assinadas por jornalistas, mas pela redação - um conglomerado uniforme.
              Porém, o mais preocupante é como a construção do texto se formou ou se espetacularizou (como preferir), e tamanha a incidência de um preconceito velado na abordagem. Explico: as matérias expõem com força um certo descontentamento, ou estranhamento de seus autores, diante do triângulo amoroso entre três mulheres. E isso fica claro, quando todos os textos expõem o fato delas terem "regalias" na penitenciária por assumirem o relacionamento afetivo, como se duas pessoas do mesmo sexo que assumem um relacionamento amoroso na prisão deveriam ser privadas de cultivar esse sentimento, ou mesmo dormirem juntas como qualquer casal. Palavras como   "desfrutam de privilégios oferecidos apenas a casais"(Correio 24 horas), "com o casamento, Suzane tem o direito de dormir com a companheira (...) Com esta nova regalia (...)" . (O Dia), "cela especial" (Revista Veja Online)
              Aqui não se exime de nenhuma das três a culpabilidade por seus crimes, ou muito menos, se "perdoa" ou as "absolve" de qualquer coisa, apenas se entende que não cabe ao jornalista formar juízo de valor, mesmo que de maneira tênue ou subliminar. De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal, "todos são iguais perante a lei", e se a carta magna da nossa federação rege isso, quem somos nós, detentores do poder da escrita e da divulgação dos fatos, trabalhar com a diferenciação entre os seres? 

REFERÊNCIAS:

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