segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Editorias policiais: release ou notícia?

Por Mirielle Cajuhy

Nessa era de tecnologia, acostumamo-nos a consumir os mais diversos produtos da forma mais rápida possível. No mundo da comunicação, parece que as notícias estão seguindo esta mesma linha. O que percebemos nos blogs da região e nas informações que neles são veiculadas, é que a velocidade - de publicação e consumo - é priorizada em detrimento de uma notícia bem apurada, com riqueza de informações e fomentadora de reflexão.
No dia 01 de novembro, o Blog do Geraldo José veiculou uma notícia intitulada: “CIPE - Caatinga entra em confronto com assaltantes, apreende armas, munições e dinheiro roubado em Uauá”. O texto, sem dúvidas, era um release policial, com direito aos termos mais complexos da área, no entanto, não estava creditado. Em situações como essa, em que nos deparamos com notícias que foram repassadas tais quais foram recebidas, surge uma necessidade de nos perguntarmos: que tipo de informação é essa que estamos consumindo?
A notícia aqui citada apresenta não só uma estrutura e uma linguagem que dificultam a compreensão do fato, como também, um enquadramento tendencioso que privilegia a ação da polícia (“mesmo diante da injusta e inesperada agressão, conseguiram atingir os meliantes, evidenciando de que o revide policial fora pontual”, entre outras expressões). Esta tendência já é esperada por se tratar de um release. Publicar textos assim é, inevitavelmente, beneficiar um lado da história no lugar do esclarecimento dos fatos e da reflexão a respeito do tema geral contido na notícia – nesse caso, a criminalidade.
É importante destacar, que, durante o confronto narrado no release em questão, dois homens morreram. No entanto, esse fato foi apenas uma notificação dentro do texto. A narração da troca de tiros, os muitos e diversos objetos apreendidos, a descrição densa e detalhista das armas e das balas que estavam com essas pessoas ganhou um destaque muito maior, logo, uma importância maior. Fica explícito que a cultura do “bandido tem que morrer mesmo” é fomentada pela polícia, repassada pelos meios de comunicação e acessada pelos leitores. Não cabe aqui ser dito que todas as pessoas que lêem esse tipo de notícia serão “manipuladas” pela informação. Mas, uma influência por conta do enquadramento, acontece.
Portanto, é necessário que fiquemos atentos aos blogs, às fontes que são utilizadas por eles e ao contexto das editorias das notícias. No caso da editoria policial da região, os releases se fazem muito presentes. Então, se analisarmos na íntegra, veremos que esta editoria passa a cumprir o papel de divulgar os atos policiais, e não de conscientizar as pessoas a respeito da criminalidade.


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